Saturday, October 21, 2006

O contra-baixo na adoração
Por Amauri Muniz


O contra-baixo é um instrumento que (normalmente) não se toca sozinho ¿ ele precisa de uma banda para se encaixar. Em 99% (esse estatística é por minha conta) dos discos que ouvimos ¿ talvez com a única exceção dos jazzistas ¿ não se ouve solos de contra-baixo e nem o instrumento sendo usado no acompanhamento de uma voz, fazendo a melodia da música. Mesmo assim, o baixista não é menos importante ou menos responsável pelo som da banda.

Já houve um tempo em que o contra-baixo era simplesmente o instrumento que tocava a nota fundamental do acorde a cada compasso ¿ e só. Hoje, depois da evolução do jazz e da música pop, principalmente a partir dos anos 60, o contra-baixo assumiu um papel mais melódico, além de rítmico e harmônico. Pessoalmente poderia dizer que não conheço nada mais agradável do que um bom groove ou uma boa frase melódica do contra-baixo, atribuindo a uma música uma assinatura especial para a canção.

Tocar contra-baixo às vezes é um ato de contrição, é trabalhar pelos outros ou pelo coletivo. Se fizermos uma analogia esportiva, seria como jogar no meio-de-campo (futebol), como levantador (vôlei) ou como armador (no basquete). Isto não quer dizer que o baixista seja o pior músico da banda ¿ ao contrário, cada vez mais os baixistas estão produzindo álbuns, fazendo arranjos e é muito comum encontrar um diretor musical de um show lá no canto tocando seu contra-baixo e comandando tudo.

A função do baixo numa banda
Num período de louvor, o contra-baixo é indispensável, fazendo a ligação entre os instrumentos rítmicos e harmônicos. O contra-baixo, junto com a bateria, empurra a banda para frente. O baixista tem a responsabilidade de tocar as notas nas cabeças dos compassos, que definem a função do acorde. Um contra-baixo fora do compasso pode fazer um estrago irremediável. Os outros instrumentistas, muitas vezes, têm mais facilidade de disfarçar uma dúvida tocando algo mais melódico. O baixista normalmente tem que apresentar a nota no primeiro tempo.

Por um lado, o contra-baixo também tem o poder de colocar balanço na levada, inserindo grooves interessantes, invertendo os acordes que fazem as ligações dentro da harmonia. Por outro lado, tente tirar o contra-baixo de uma música e você vai experimentar uma sensação muito esquisita, como se o chão saísse de debaixo dos pés. E é isso que muitas vezes o baixo é: o chão.

Preenchendo espaços vazios
Numa banda, o contra-baixo e a bateria são parceiros. Quando há sintonia entre os instrumentistas, a unidade fica tão perfeita que chega a soar como um único instrumento. O espaço do contra-baixo se concentra nas tonalidades graves, exatamente aonde os outros instrumentos não chegam. A banda conta com a atuação do baixista nessa região grave, causando um efeito interessante nas frases mais agudas e preenchendo espaço vazio deixado pelos outros componentes da banda, sem competir pelo espaço e desfrutando das oportunidades para suprir a necessidade de uma frase melódica fora da região dos graves.

É preciso estudar, sim!
Tocar contra-baixo é algo específico. Um guitarrista pode ¿quebrar o galho¿ numa eventual necessidade, mas se alguém quer tocar contra-baixo, precisa estudar muito as técnicas específicas como o fazem para qualquer outro instrumento. Investir dinheiro em aulas, vídeos, discos, revistas especializadas e, principalmente, seu precioso tempo. Lá se vão horas e horas criando intimidade com o instrumento para, na hora certa, aplicar com bom gosto tudo que já está ¿na ponta dos dedos¿. (Veja no quadro, algumas dicas para o estudo do instrumento).

Por dentro do contra-baixo
Procure adquirir um instrumento de afinação perfeita, som limpo e sem ruídos. E na medida em que você for se aperfeiçoando, vai notar cada vez mais a diferença entre as centenas de modelos que existem até encontrar o seu.

Hoje, existem contra-baixos de quatro, cinco, seis, sete e oito ou mais cordas. Penso que os de seis cordas ou mais são mais indicados para solos ou performances pessoais. Na minha opinião, num baixo de até cinco cordas é possível obter um timbre mais interessante para a música pop. Sem querer criar polêmica aqui, essa é uma opinião que compartilho com alguns amigos que são grandes baixistas. Mas isso não impede ninguém de fazer seu disco solo com um baixo de quatro cordas ou tocar numa banda de música sertaneja com um contra-baixo de seis ¿ isso é muito pessoal.

O fato do contra-baixo ser ativo ou passivo não o faz melhor ou pior, apenas diferente. Teoricamente, o contra-baixo ativo ¿ que usa uma bateria para alimentar um circuito interno ¿ tem o som mais forte e é mais sensível, oferecendo mais possibilidades de regulagem do timbre. Entretanto, existem contra-baixos, como o lendário Fender Jazz Bass, que são passivos e tem um som forte e profundo, com muita sensibilidade na captação, enquanto que alguns contra-baixos ativos têm uma resposta sonora totalmente irregular. A escolha entre os dois é só uma questão de adaptação. Dica: experimente muitos até achar o seu.

Para finalizar
O contra-baixo é um instrumento essencial numa equipe de louvor, tão importante quanto os outros, mesmo que algumas pessoas não saibam para que serve aquela ¿guitarrona que fica lá no fundo e nem faz solos¿. Quem gosta de contra-baixo tem o grande privilégio de desfrutar de um instrumento espetacular, tão apaixonante e divertido.

Ser comedido, pensar no grupo antes de pensar em si, ser servo, dar suporte aos outros nos momentos em que eles precisam e, ao mesmo tempo, ser arrojado, audacioso, veloz, virtuoso, mantendo-se sempre bem preparado para os momentos em que uma maior habilidade for exigida. Isso é ser baixista, mas também poderia ser chamado de ser cristão, servo ou adorador. Ah, e não se esqueça: seja sempre do contra ¿ do contra-baixo.

Dicas práticas para o seu aperfeiçoamento

¿ Estude muito as técnicas variadas
Para a mão direita: O tradicional Pizzicato, sempre variando os dedos indicador e médio sem tocar duas notas com o mesmo dedo. O viciante slap, com suas notas percutidas que preenchem a maioria dos espaços vazios ¿ cuidado com os excessos! O duplo domínio, com notas tocadas no braço do instrumento com as duas mãos. Há muitas outras técnicas que existem por aí e são ferramentas prontinhas para serem usadas por você.
Para a esquerda: Todas as variações de movimentos entre os quatro dedos além das escalas e dos harpejos.

¿ Procure aprofundar seu conhecimento de harmonia. Se possível estude um instrumento complementar como piano ou violão. Ouça os baixistas que você admira e retire deles a inspiração para seus próprios grooves criativos e marcantes. Mas cuidado para não fazer simplesmente uma cópia, certo?

¿ Seja sensível e use o bom senso para aplicar as técnicas certas na hora certa, esteja sempre pronto para o silêncio das pausas ou o virtuosismo das semicolcheias dos slaps ¿ e por falar em slaps, você tem direito a um estralo por mês e só, está bem? (Atenção: isso é só uma brincadeira!!!).

Amauri Muniz é músico multi-instrumentista, produtor e membro da Comunidade Vinha de Piratininga (SP)

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